TRIBUTO A RAUS SEIXAS

QUANDO EU OUVI OURO DE TOLO
PELA PRIMEIRA VEZ, EM 1973
ME PERGUNTEI UM TANTO ASSUSTADO
QUEM SERÁ ESSE SUJEITO
QUE COM TUDO TÁ CHATEADO?
MAS EU ERA MUITO NOVO PRA ENTENDER
TUDO QUE ELE QUERIA DIZER
OU TALVEZ ATÉ TIVESSE MEDO DE SABER
DAS COISAS QUE PODERIAM ACONTECER
E AOS POUCOS FUI DESCOBRINDO
QUE O MOLEQUE MARAVILHOSO
TAMBÉM BRIGOU PELO SEU OSSO
FOI JOGADO NO FUNDO DO POÇO
E VOLTOU DE LÁ SABENDO DE TUDO
VIROU MOSCA E COMEÇOU A VOAR
A PERTUBAR, A ZUMBIZAR
NOS OUVIDOS DE QUEM TAVA CALADO
COM MEDO DO PECADO DE SER LIVRE
COM MEDO DE DEUS
QUE TAVA SEMPRE A MEU LADO
PRONTO PRA ME DAR CASTIGO
NO PRIMEIRO PASSO ERRADO
QUE DEUS É ESSE QUE TÁ DO MEU LADO
ME OLHANDO COMO A UM INIMIGO ARMADO
QUE DEUS É ESSE, QUE DEUS É ESSE
QUE ESTREMECE MEU CORAÇÃO
E ME QUER IMOLADO
ANTES FOSSE UM CAVALO ALADO
DOTADO DE AMOR

PAIXÃO

PAIXÃO

Quiz você

É verdade

Não posso negar

Foi forte atração

Vulcão em erupção

Impossível fugir

Mas você não me vê

E por isso sofrer

Faz parte de mim

Sempre foi meu viver

E agora já nem quero

Morrer

Me acostumei com a dor

E se não for o caso

Ouça essa letra

Que fala de amor

Fernando Ramos

ESSE PENSAMENTO

ESSE PENSAMENTO

QUE ME ATRAPALHA

EU ESQUADRINHO ELE

EU LHE PASSO A NAVALHA

ELE TENTA ME PEGAR EM

SUA MALHA

MAS O MEU FOGO

O QUEIMA COMO PALHA

EU DEIXO QUE A ÁGUA

E O VENTO O VARRA

ESSA RAIZ RUIM

EU ARRANCO NA MARRA

A BARRA É PESADA

MAS NESSA ESTRADA EU NÃO

PARO

ENCARO TODO E QUALQUER

PERIGO

PRA TRAZER DE VOLTA A PAZ

QUE UM DIA ANDOU COMIGO

FERNANDO RAMOS

CAMINHOS

Trilhar caminhos

Que levam a lugar nenhum

Moinhos holandeses

Se o vento não soprar

Se secarem as águas

Tão puro deserto

Se não há linhas no muro

Voa até o último monte

Que no horizonte se vê

Quantos caminhos

O fim deles é igual

Se o que você procura

É a loucura real

Fernando Ramos

JÁ NÃO SUPORTO MAIS

Já não suporto mais

Já não suporto mais

Já não suporto mais

Pré-fabricado, estilizado

Sistematizado, mastigado

Eu não engulo mais

Venho também

Numa metamorfose

No escuro do fogo

Eterno jogo

Vida e morte

Pra fechar o corte

Agora perco o medo

Reencontro o segredo

Miragem ilusão

Vou seguir o caminho

Traçado na palma

Da minha mão

Fernando Ramos

POEMAS

Poemas não são arrotos

Tortos são os caminhos

Que levam a ele

O que dele se espera

É neve na primavera

Poemas não são palavras soltas

Dançando no papel

Não é sua imaginação

Pensando que voa livre no céu

Poemas não são rimas

De palavras primas entre si

Aqui é o esculpir

Não com o barro

Mas com a lama filtrada

Pingada lentamente

Fernando Ramos